Das Crônicas de Lady Tortie,
22 de Setembro
A humana abriu as janelas hoje. Um ar diferente entrou, carregado do cheiro de terra úmida e da promessa de flores. A primavera chegou. O gatinho ruivo, Ginger, parece uma abelha tonta de felicidade, sua energia caótica espelhando o crescimento acelerado lá fora. Ele é, em sua essência, uma criatura da primavera — todo impulso, cor e vida nova.
Eu aprecio. Observo o sol reinvidicar seu espaço no céu, aquecendo os lugares onde gosto de repousar. Mas enquanto o mundo se veste de flores e cores vibrantes, algo mais antigo se agita em mim. Meus bigodes não sentem apenas o pólen no ar; eles sentem também a magia de Outubro que se aproxima.
Para os humanos, pode parecer um paradoxo. A estação da vida, da luz e do florescimento é também o mês das bruxas e dos mistérios. Eles se esquecem que a natureza é pródiga em suas contradições. A vida que explode com mais força é também a que pulsa com a magia mais antiga.
E é por isso que, mesmo com o sol da primavera em minha pelagem, meu espírito se volta para a época em que o véu entre os mundos se torna tão fino quanto uma teia de aranha. Quando as memórias ancestrais, das gatas que caminharam ao lado das bruxas e poetas, sussurram na brisa quente da noite.
Não me entenda mal. Aprecio a alegria da primavera, a Confeitaria da Kiki, a bagunça do Ginger junto com Jiji. Mas meu espírito sempre se lembrará do poder que Outubro guarda, não importa a estação lá fora.
Se quiser um conselho de uma gata que já viu muitas primaveras: celebre a vida que floresce, mas quando a noite chegar, acenda uma vela. E apenas observe. A primavera mostra a beleza do mundo. A magia de Outubro mostra os mundos que existem dentro da beleza.
— Lady T.